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Não existe almoço grátis

A frase que dá título a esse artigo já virou rotina em várias esferas e não apenas no mercado financeiro. É quase um jargão popular e é praticamente impossível ficar uma semana sem ouvi-la se você estiver envolvido no mundo dos investimentos.

A frase original é "There ain't no such thing as a free lunch" e tem sua origem no costume dos bares americanos do século XIX em oferecer almoços "grátis" aos clientes que consumissem ao menos uma bebida. Não se sabe quando foi usada pela primeira vez, mas ficou bastante popularizada após Milton Friedman, ganhador do Nobel de Economia, a usar como título de um livro em 1975. Acho que o significado é bem claro, mas não custa repetir. A idéia é que não se consegue um objetivo sem abrir mão de alguma coisa ou oferecer algo em troca.

Mas enfim, por que estou comentando isso em um artigo de uma empresa especializada em finanças pessoais? Além de ser curioso conhecer a origem da expressão que tem tanto a ver com a área, acho que cabe refletirmos se aplicamos em nossos investimentos essa máxima que tanto gostamos de repetir.

Veja bem: há 2 anos os EUA não mostravam sinais de recuperação e a Europa estava mais para quebrar do que qualquer outra coisa. A discussão em voga era se o Euro deixaria de existir ou não. Nesse momento de desenvolvidos em crise, o Brasil viveu um momento excelente. O capital internacional trocou seus dólares por reais e foi às compras.

Naturalmente, com o excesso de demanda, as taxas foram caindo e chegamos a ver nossa renda fixa pagar pouco menos de 8% a.a. Eu conversava com clientes, amigos e prospects sobre investir e a resposta mais comum era: "nossa, mas está muito difícil ganhar dinheiro. Olha as taxas que estão sendo pagas. Não vale a pena investir dinheiro desse jeito."

O tempo passou e chegamos onde estamos hoje. Inflação elevada, rating brasileiro rebaixado, pesquisas do IBGE sendo "extintas", o desemprego voltando a subir e o capital internacional fluindo para os EUA que já mostram sua força novamente. Mais uma vez a economia segue seu curso e, já que a demanda por títulos brasileiros caiu, o país volta a pagar taxas de juros interessantíssimas.

Volto às mesmas pessoas e mostro que agora sim temos as tais taxas que eles tanto esperavam. Dessa vez a resposta é diferente da anterior, mas também diferente da que eu imaginava: "Mas Lucas, nessa incerteza, fica difícil aplicar dinheiro. Vamos esperar por momentos mais calmos."

Bom, é nessa hora que caberia muito bem utilizar o famoso jargão. Encher o peito e com um ar intelectualizado dizer: Bom, meu amigo, "there ain't no such thing as a free lunch". Embora seja mais elegante e talvez até um pouco pedante, não consigo deixar de pensar em falar uma frase bem mais popular e um pouco rude: Aham, e mamar na vaca você não quer, né?

Lucas Radd - economista e sócio da WGFP, planejador financeiro pessoal CFP® e gestor de carteiras CGA pela Anbima

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